Entenda o conflito entre Israel e Hamas

Após o grupo islâmico Hamas bombardear Israel, no último sábado (7), em um ataque surpresa que deixou centenas de mortos, muitas pessoas passaram a se perguntar o que é Palestina, Hamas, e por que estão em conflito? O professor de filosofia e ciência política, Victor França, explica o que é esse conflito que dura mais de 70 anos.

O que é o Hamas?

O Hamas é uma organização política e militar, de orientação islâmica, criada em 1987 que governa uma porção do território palestino chamada Faixa de Gaza. Para uma boa parte da comunidade internacional a organização é classificada como um grupo terrorista. Mas é importante dizer que outros países classificam apenas o seu braço armado e outros não usam o adjetivo ‘terrorista’ ao se referir ao Hamas. Suas ofensivas se devem ao embargo israelense feito em seu território e a ocupação também israelense nos territórios da Cisjordânia; bem como outros motivos como, por exemplo, a acusação de que a polícia israelense desrespeita a peregrinação dos palestinos nos lugares sagrados para o islamismo na cidade de Jerusalém.

O que é a Faixa de Gaza?

É uma pequena extensão territorial que podemos classificar como um enclave palestino. Com apenas 365 km², o território tem mais de dois milhões de habitantes que se limitam a viver e ir e vir nesse pequeno espaço. Foi ocupado por Israel na Guerra dos Seis Dias (1967) e em 2005 se retira unilateralmente; dois anos depois o Hamas vence as eleições locais e governa a região desde então.

O que é a Palestina e o que esses eventos têm a ver com ela?

A Palestina é tanto um território histórico (Palestina histórica) quanto uma Autoridade Nacional com uma população em movimento pela luta por um estado dentro desse território. A grande questão é o conflito de narrativa quanto ao direito pelo território da Palestina histórica. Por um lado, existe a narrativa israelense a defender a sua legitimidade pelo território como um pertencimento histórico e também como um esforço reparador pelo holocausto, que foi a justificativa em 1947.

Por outro lado, a narrativa palestina é tecida também pela evidência histórica segundo a qual o território era ocupado pelos árabes antes da criação, arbitrária e descabida segundo eles, do Estado de Israel em 1947. E, sobretudo, hoje você tem uma ocupação exponencial da população israelense em territórios que as organizações internacionais classificam como ilegal por serem em espaços reconhecidos como território palestino; despertando a revolta da população e a ação de grupos como o Hamas e outros grupos menores.

Por que Israel e o Hamas têm conflito?

Justamente pelo conflito entre as narrativas de direito pelo território. Mas vale dizer que o tamanho das ofensivas é desproporcional. Israel é um estado, com exército grande, tecnologia militar e arsenal de guerra de peso como poucos países tem; a população israelense tem um forte sentimento militar a partir do momento que todo rapaz, ao completar 18 anos, presta obrigatoriamente o exército por três anos e as mulheres também, por dois anos. O Hamas não tem nada, se compararmos com o que Israel tem.

Por que esse ataque é sem precedentes?

Justamente porque os fatores do conflito hoje são inéditos. Em 2021 foi a última vez que ofensivas sérias e com muitas baixas ocorreu. Mas um acontecimento como sábado, onde mísseis desde Gaza caíram e mataram mais de 200 civis e ainda conseguiram capturar soldados e civis para fazê-los de reféns, isso é único. Israel tem respondido como de costume: com bombardeios aéreos que sempre vão na certeza de atingir a região. Mas como vão lidar com esses seus cidadãos feitos reféns, ainda é uma questão. Israel já convocou 300 mil reservistas; inclusive alguns estão aqui no Brasil. Não creio que uma investida militar terrestre, adentrando a Faixa de Gaza seja uma possibilidade; mas não sei no que apostar com essas novas roupagens do conflito.