Só uma mudança cultural pode coibir a violência contra a mulher no país, diz magistrada
Desembargadora Ana Paula Zomer destaca contradição de o Brasil ter a 3ª melhor legislação protetiva e ser o 5º país que mais mata mulheres no mundo
Ao detalhar as medidas que podem ser adotadas pelo Judiciário para coibir e reparar os danos provocados na sociedade pela violência contra a mulher, a desembargadora Ana Paula Zomer afirmou no podcast IPAM Talks, que foi ao ar nesta segunda-feira (1), que “sem uma mudança de perspectiva cultural, nada será suficiente para resolver a questão”.
“Vivemos uma contradição. A legislação protetiva brasileira é considerada a terceira melhor do mundo, mas o Brasil é o quinto pais que mais mata mulheres”, disse a desembargadora no terceiro episódio do programa, veiculado pelo Instituto Paulista de Magistrados (IPAM).
A magistrada lamentou a perda de investimentos na implementação das políticas de prevenção e nas redes de apoio às mulheres que são vítimas de violência. E fez a defesa do Protocolo de Julgamento com Perspectiva de Gênero, instituído pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2023: “Não se pode perguntar a uma mulher se ela estava de minissaia em um crime de estupro. A relevância desse fato em julgamento em que ela foi vítima de uma barbárie é zero, e o Protocolo permite que se analise a situação sob a perspectiva da mulher”, afirmou ao comentar os instrumentos estabelecidos pelo Judiciário para tentar reduzir os casos relacionados a esse grave problema.
Desembargadora do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ana Paula Zomer tomou posse na Corte paulista em novembro de 2021 indicada pelo Quinto Constitucional da Advocacia, depois de ter atuado por 33 anos como procuradora do Estado. Ela comentou as estatísticas do CNJ, que mostram que os crimes relacionados à violência contra a mulher representaram, no ano passado, 21% do total das demandas ao Judiciário brasileiro e cresceram mais que o dobro das demandas do Direito Penal como um todo. A magistrada falou também sobre a jurisprudência em relação a várias teses com perspectiva de gênero definidas pelo Superior Tribunal de Justiça, como a custódia cautelar, o aumento da pena, o uso de tornozeleira eletrônica pelos agressores e o Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero.
Para ouvir o podcast IPAM Talks acesse aqui.
Sobre o IPAM – O Instituto Paulista de Magistrados é uma associação civil de cunho científico e cultural, sem finalidade lucrativa, idealizada para valorizar o Poder Judiciário e a Magistratura. Foi fundado em 8 dezembro de 1999, por 21 juízes de primeiro grau, com o objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento das instituições democráticas, defender as prerrogativas e a dignidade dos magistrados e propor demandas coletivas na defesa desses interesses. Está sediado na cidade de São Paulo e conta atualmente com mais de 1 mil associados, entre membros titulares, colaboradores e honorários.
Desenvolve estudos dos direitos internos e internacionais, promove pesquisas, promove projetos socais em defesa dos Direitos Humanos e edita livros e revistas que favoreçam a divulgação da ciência jurídica e da cultura em geral; realiza eventos e debates sobre temas relacionados à magistratura e projetos em parceria com outras instituições visando fortalecer a sociedade e esclarecer informações sobre a posição e as atribuições dos profissionais do Judiciário, além de promover cursos de capacitação e aperfeiçoamento profissional.
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