Sem UTI, “Hospital da despedida” abriga pacientes com doenças incuráveis para morrer com dignidade
Ao contrário de outros hospitais, o foco ali não é salvar vidas a qualquer custo, mas garantir conforto, dignidade e acolhimento nos últimos momentos
Na cidade de Salvador, na Bahia, um hospital público vem mudando a forma como os pacientes enfrentam o fim da vida. O Mont Serrat, localizado em um antigo casarão com vista para o mar, foi criado para oferecer cuidados paliativos a pessoas com doenças graves e sem chance de cura. Ao contrário de outros hospitais, o foco ali não é salvar vidas a qualquer custo, mas garantir conforto, dignidade e acolhimento nos últimos momentos.
O hospital funciona desde janeiro de 2025 e já é considerado o primeiro do país voltado exclusivamente para cuidados paliativos dentro do SUS. São 70 leitos, todos destinados a pacientes que estão em fase terminal. Lá, não há UTI nem equipamentos de reanimação. Em vez disso, os profissionais cuidam da dor, do sofrimento e das emoções, respeitando os desejos e histórias de cada pessoa.
Os pacientes são recebidos com carinho e atenção. Eles são convidados a falar sobre suas preferências, como músicas que gostam, seus pratos favoritos e até seus times do coração. A ideia é criar um ambiente onde eles se sintam em paz. Um dos pacientes, por exemplo, se emocionou ao ver o mar da janela, lembrando os tempos em que trabalhava em faróis. Outro, com câncer em estado avançado, chegou desacreditado, mas se sentiu acolhido como se estivesse em casa.
O trabalho no Mont Serrat envolve médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais que atuam em equipe para garantir que o paciente e sua família tenham apoio até o fim. Todos são treinados para lidar com a morte de forma humana, respeitosa e sem tabu. O hospital também não pratica eutanásia, mas segue a ortotanásia, que consiste em aliviar os sintomas sem apressar ou prolongar a morte.
A médica Karoline Apolônia, que coordena os cuidados no hospital, explica que muitas pessoas ainda acham que cuidados paliativos significam desistir do tratamento, mas na verdade é uma forma de valorizar a vida que resta.
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