Projeto inédito quer criar centro de convivência para jovens autistas no Vale do Paraíba
Iniciativa idealizada por mãe de adolescente com TEA e advogada especializada já recebeu aporte de R$ 500 mil e visa promover autonomia e inclusão social
Durante a roda de conversa promovida pelo portal Aqui Vale, no dia 16 de abril, a mãe da jovem Isabella, de 16 anos, Tatiana Helena Lopes, compartilhou um projeto inovador que está sendo desenvolvido em parceria com a advogada Flávia Fidalgo, especialista em direitos das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil. A proposta é a criação de um Centro de Convivência para Pessoas Autistas, voltado ao desenvolvimento de habilidades práticas, autonomia e construção de vínculos sociais: “Arde no meu coração o desejo de criar um centro onde elas possam ter aula de música, culinária, e outras atividades efetivas para uma vida adulta. Porque quando eu morrer, o que será da minha filha?”, emocionou-se Tatiana ao apresentar a proposta.
O espaço idealizado seria estruturado como uma casa comum, com cômodos funcionais onde os participantes pudessem vivenciar, de forma simulada e orientada, as tarefas cotidianas — como lavar roupa, preparar refeições e organizar o ambiente. O objetivo é que jovens com TEA possam desenvolver essas habilidades de forma prática, em um ambiente seguro e acolhedor, preparando-se para uma vida com mais autonomia. “Hoje, minha filha tem o suporte do pai, da mãe e das irmãs. Mas se ela ao menos entender que precisa pôr a roupa na máquina, ela não vai ser um peso para ninguém”, completou Tatiana.
Segundo Flávia Fidalga, o centro será destinado a pessoas com TEA de diferentes níveis do espectro, desde que apresentem um grau mínimo de independência para realizar atividades do dia a dia. “É um espaço de convivência para que esses jovens desenvolvam o sentimento de pertencimento. Muitos convivem apenas com os pais e têm dificuldades em formar vínculos sociais fora de casa.”
Investimento inicial e próximos passos
A iniciativa, que ainda está em fase inicial de desenvolvimento, já recebeu um aporte de R$ 500 mil de um empresário anônimo. O próximo passo é a elaboração do projeto arquitetônico e a prospecção de um local adequado para a implementação do centro.
Apesar do avanço financeiro, Flávia afirmou que não pretende buscar apoio da prefeitura neste primeiro momento. “Queremos manter o projeto fora de interesses políticos. No futuro, podemos sim abrir um convênio público para atender a população de forma mais ampla.”
Modelos de referência
Embora existam estruturas semelhantes no Brasil, como o centro localizado em Atibaia – voltado principalmente para internações de pessoas com TEA severo –, Flávia explica que o projeto do Vale do Paraíba tem uma abordagem diferente. “Não se trata de institucionalização, mas de um espaço de convivência e desenvolvimento para pessoas com algum nível de autonomia.”
Já um exemplo mais próximo da proposta seria o Centro TEA Marina Magro Beringhs Martinez, inaugurado em 2 de abril de 2025 pela Prefeitura de São Paulo. Considerado o primeiro da América Latina, o centro foi concebido para promover o desenvolvimento, a inclusão social e a autonomia de pessoas com TEA e suas famílias. Com 5.800 m², a unidade oferece piscina aquecida, quadra esportiva coberta, oficinas de música, dança, pintura, teatro e uma casa mobiliada onde os usuários podem praticar atividades de autocuidado, como cozinhar, lavar roupas e organizar seus pertences.
Sobre o evento
O encontro “Desafios Reais da Maternidade TEA” foi realizado pelo portal Aqui Vale com o objetivo de promover um espaço seguro e acolhedor para que mães de pessoas com TEA pudessem compartilhar vivências, desafios e estratégias de cuidado. A roda de conversa reuniu 12 mães e três especialistas da área, que abordaram temas como o acesso a direitos, apoio emocional e propostas de inclusão.
Fique por dentro de todas as notícias em tempo real, entre no nosso grupo de WhatsApp! (Clique Aqui!)
Deixe um comentário