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Pele de peixe gigante da Amazônia vira bolsa de luxo, mas o lucro não chega aos pescadores

Modelo de preservação e manejo é visto como sustentável, mas associações reclamam de falta de competitividade e buscam negociações com preço que consideram mais justo

Por Portal Aqui Vale

Bolsas de luxo e acessórios de couro que chegam a custar milhares de reais, no Brasil e em lojas nos Estados Unidos. O uso da pele espessa e resistente do pirarucu, peixe que já foi considerado ameaçado de extinção e tem hoje sua pesca e comércio controlados, recebe apoio tanto da indústria da moda quanto de autoridades ambientais.

O pescador amazonense e vice-presidente da Federação dos Manejadores e Manejadoras de Pirarucu de Mamirauá (Femapam) Pedro Canízio diz que se assustou ao ver o preço de um desses itens de luxo à venda, pela primeira vez, em uma viagem que fez ao Rio de Janeiro há alguns anos.

Couro exótico e sustentável

O couro do pirarucu cumpre um papel considerado importante no mercado da moda, por passar essa mensagem de proteção ao meio ambiente.

Couros, em geral, são celebrados por sua durabilidade e também por uma questão cultural ligada à ancestralidade, diz Lilyan Berlim, especialista em sustentabilidade na moda e professora de gestão de luxo na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Mas a ligação com danos ao meio ambiente tem feito com que a indústria virasse alvo constante de críticas.

O pirarucu entrou como uma exceção. “Tem toda uma questão cultural. Ele é alimento das comunidades ribeirinhas da Amazônia. Quando você usa o couro do pirarucu, de certa forma está gerando renda para as comunidades”, diz a professora.

Couro de pirarucu é usado por marcas de luxo no Brasil e no exterior para fazer acessórios como bolsas e botas. Foto: Bernardo Oliveira/Asproc/Divulgação/BBC

Novas marcas surgem neste mercado a cada ano, sempre incorporando a ideia de sustentabilidade ao discurso.

Do manejo às vitrines

A pesca do pirarucu ocorre em período fixo do ano nas chamadas áreas de manejo, no estado do Amazonas, e só 30 % dos adultos podem ser capturados; o restante fica para manter os estoques. O controle é do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

No sistema de manejo, as próprias comunidades ficam responsáveis por vigiar e proteger os lagos nas áreas em que vivem para evitar invasões. Com isso, também complementam suas rendas.

A espécie já esteve entre as ameaçadas com risco de extinção e, por isso, sua pesca extrativa foi proibida no Amazonas nos anos 1990. Com o desenvolvimento dos projetos de manejo, a população de peixes voltou a crescer.

Depois da autorização do Ibama, as comunidades se reúnem para organizar a pesca e a comercialização por associações comunitárias das áreas de manejo.

Vista aérea de barcos de pesca na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, em Fonte Boa, estado do Amazonas, Brasil. Foto: AFP via Getty Images/BBC

Reconhecimento do pescador

Depois da pesca, a maior parcela do pirarucu vai para frigoríficos, onde pele e carne são separadas. Só então essas peles podem seguir para curtumes, onde são transformadas em couro para fabricantes de calçados, bolsas e outros acessórios.

É nesta última etapa que há a maior valoração do produto, segundo uma pesquisa conduzida pela organização sem fins lucrativos Operação Amazônia Nativa (Opan) e publicada em 2018.

O estudo explica que o processamento da pele é complexo e envolve várias etapas, como lavagem, molhos e banhos, retirada de escama, epiderme e gorduras, tingimento, secagem, recorte e costura. Também há uma série de exigências legais. Daí a dificuldade em se implementar a confecção desse material diretamente nas comunidades.

A pesquisa identificou uma concentração de mercado: 95% das peles foram comercializadas por sete frigoríficos e só 5% pelas associações comunitárias.

Pedro Canízio, da Federação dos Manejadores e Manejadoras de Pirarucu de Mamirauá, diz que consideraria um sistema mais justo no qual os manejadores recebessem uma parte do que é ganho com a venda das peles.

Comunidade cria marca própria, mas faltam recursos

Há tentativas de fazer o processamento do couro de forma mais próxima às comunidades, mas os envolvidos dizem que faltam recursos.

Uma das formas de fomentar e valorizar o trabalho dos manejadores foi a criação do Coletivo do Pirarucu, em 2018, que reúne comunidades locais, institutos de pesquisa e organizações governamentais, como o próprio Ibama.

Reunião do Coletivo do Pirarucu, em Manaus (AM). Foto: Ibama via BBC

O grupo lançou a marca Gosto da Amazônia, gerida pela Asproc, com venda para outras regiões do país, como sul e sudeste, mas com foco na carne.

A entidade quer que futuramente esse modelo seja replicado para a pele do peixe. Para isso, Britto acredita que são necessárias políticas públicas que invistam no setor, que ajudem os próprios pescadores a desenvolver tecnologia para fazer a conversão em couro.

Foto de capa da matéria: AFP via Getty Images/BBC

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