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Reflexão: consequências sociais da pandemia

Como iniciar uma coluna com pé direito? Como fazer o leitor se interessar em ler a segunda coluna que vou escrever? Essas perguntas ficaram na…

Por Dr. Leonardo Braga

Como iniciar uma coluna com pé direito? Como fazer o leitor se interessar em ler a segunda coluna que vou escrever? Essas perguntas ficaram na minha cabeça a semana toda. Qual assunto traria mais visibilidade para prender a atenção do público? Antes de mais nada, espere ler aqui somente temas e tratamentos com embasamento científico, afinal sou formado na UNICAMP. Uma faculdade onde aprendi que: “a medicina é ciência das verdades transitórias”. Então, se o ovo é bom ou ruim para saúde, vou escrever o que diz a literatura científica até o momento atual.

Claro que vou dar minha opinião pessoal sobre o assunto senão do que adianta escrever para o público. Recentemente recuperei uma entrevista do Dr. Jatene, que reflete o que eu penso sobre minha profissão e que será a base desta coluna sobre saúde:

“medicina é uma profissão linda quando exercida com a ética da profissão. É preciso que o indivíduo não confunda a profissão com comercialização. A nossa profissão tem que ser exercida com absoluto compromisso com a ética”.

Pois bem! Decidi começar a coluna falando sobre COVID-19 e suas consequências na parte psicológica da população, especialmente na questão sobre ansiedade e depressão.

O que a pandemia do COVID-19 trouxe de diferente para nossas vidas? Minha visão no consultório é que as pessoas estão mais ansiosas e depressivas. Mas será que essa sensação se transmite em números? Os jovens se fecharam nos seus quartos durante a pandemia já que não podiam sair de casa e atualmente estão jogando vídeo games como nunca. Na verdade, há interação com os amigos online, mas sem contato interpessoal. 

Existem dentro da própria Indústria do entretenimento estudos para que consigam fazer os jovens jogarem 10 minutos a mais a cada mês. Os pais se sentem culpados pela situação criada pela circunstância e não conseguem fazer o ciclo parar, afinal, a justificativa é: “todos os colegas também jogam”.

A pandemia trouxe o trabalho “home office” e com grandes vantagens para empresa e funcionários. Pelo lado da empresa menor área útil necessária com fechamento de vários escritórios em todo país, assim como menor gasto com transporte, alimentação e manutenção da estrutura física. Pelo lado do funcionário trouxe a comodidade de ficar em casa sem necessidade de se deslocar até o trabalho, facilidades de horário e estar junto à família. 

Reuniões online são comuns e tão produtivas quanto aquelas antes da pandemia dentro do escritório da empresa ou em outra cidade ou país. As compras online aumentaram substancialmente e passaram a dominar o cenário, desde itens de supermercado até roupas, facilitando a vida da mulher que trabalha e ainda cuida das compras da casa.

Mas o que isso tem relação com a saúde? Todo esse movimento benéfico por um lado trouxe consequências psicológicas na população mundial se comparado à fase pré-pandemia. Estudo brasileiro publicado na revista Public Health em janeiro de 2021 analisou sintomas de depressão na população do Rio Grande do Sul no período de 2020 em plena pandemia. Os questionários foram realizados online e os resultados mostraram que antes da pandemia a porcentagem de depressão nos participantes do estudo era de 3,9% para sintomas médios e 4,5% para sintomas severos. 

Todo esse movimento benéfico por um lado trouxe consequências psicológicas na população mundial se comparado à fase pré-pandemia.

Dr. Leonardo Braga

Durante a pandemia nos meses de junho a julho de 2020 esses números passaram a ser 29,1 % e 37,8%, respectivamente, nos participantes do estudo. Porcentagem semelhante foi observada em vários estudos com populações de diferentes países como Espanha, Alemanha, Estados Unidos e Japão. A restrição social e o medo de algo desconhecido que ameaçava a própria sobrevivência da população mundial são os principais motivos para estes sintomas. Já existiam trabalhos semelhantes com aumento da ansiedade e depressão em outras crises mundiais como a crise econômica que aconteceu nos Estados Unidos em 2008 ou a da Grécia em 2009 com índices de até 50% de aumento de depressão na população.

No entanto, temos na era pós-COVID algo diferente das crises econômicas citadas anteriormente, principalmente pelos fatores citados como as reuniões online e vídeo game e consequente redução das relações interpessoais físicas. Nas crises anteriores os índices de depressão voltaram a patamares idênticos aos da era pré-crise. Será que vamos conseguir voltar aos mesmos índices de depressão na era pós-COVID?. Minha opinião é que provavelmente, diferente das crises anteriores, os níveis de ansiedade e depressão ficarão e permanecerão acima da era pré-COVID justamente pela redução das relações interpessoais.

Quem apostaria o contrário? Novos estudos nos mostraram a realidade pós-pandemia. Os poucos estudos que foram publicados mostram que na população que ficou internada por COVID o índice de ansiedade e depressão está acima da média pré-pandemia. Mas ainda não temos estudos publicados na população em geral. Como dizia um grande professor meu da UNICAMP sobre situações fora dos estudos científicos na medicina: “O tempo vai dizer. Vamos observar”

Dr. Leonardo Braga

Especialista em urologia, Dr. Leonardo Braga é medico formado pela UNICAMP e faz parte do corpo clínico de um dos melhores hospitais do país, Albert Einstein e da Rede D’Or São Luiz. Pertence ao seleto grupo de profissionais especialistas em cirurgias com técnicas robóticas e minimamente invasivas. Junto da medicina, Dr. Leonardo traz o hobby de colecionar moedas antigas, assuntos que abordará em sua coluna no Aqui Vale com objetivo de alertar para a saúde masculina e dividir entretenimento com os homens.

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