Inovação e sustentabilidade: caminhos para um desenvolvimento consciente no Brasil
Por Luis Namura - Engenheiro do ITA, mentor empresarial e investidor
Unir inovação e sustentabilidade sem comprometer a competitividade dos negócios exige visão estratégica, adaptação aos processos e foco no valor a longo prazo. Ao contrário do que muitos acreditavam, hoje empresas inovadoras e sustentáveis são justamente as mais competitivas.
A expertise de mais de 30 anos na gestão de negócios de vários segmentos me leva a crer que existem sete caminhos para alinhar inovação, sustentabilidade e competitividade: criar com propósito, usar a tecnologia a favor da eficiência, tratar a economia circular como um modelo de negócio que pode dar certo em várias esferas, idealizar produtos e serviços sustentáveis desde a concepção do design, engajar o consumidor na jornada sustentável, buscar certificações e parcerias; e por fim, investir em educação e cultura organizacional. O resultado é uma competitividade sustentável, construída sobre pilares como a redução de riscos regulatórios, aumento da lealdade do cliente, atração de talentos e investidores, abertura de novos mercados e uma maior resiliência a longo prazo.
Em um sentido mais amplo, o case da indústria de cosméticos Natura ilustra bem esse contexto. O que a tornou inovadora e, ao mesmo tempo, sustentável foi o fatode usaringredientes da biodiversidade amazônica com manejo sustentável, o desenvolvimento de refis reutilizáveis para reduzir o uso do plástico, investimentos em logística reversa e carbono neutro. O resultado: tornou-se uma referência global em sustentabilidade, reduziu os custos operacionais e aumentou o valor da marcae foi a primeira empresa brasileira listada no índice de sustentabilidade da Bolsa de Nova York.
No Brasil, alguns setores da economia já se beneficiam de grandes vantagens ao adotarem práticas sustentáveis, tanto na redução dos custos, quanto em valor de marca, inovação e atração de investimento, como o agronegócio, por meio da agricultura regenerativa, uso racional da água, biotecnologia e rastreabilidade; a construção civil, onde vemos as tendências de prédios com certificação LEED, uso de energia solar, tijolos ecológicos; indústrias de cosméticos e higiene pessoal, mobilidade e transportes, além da moda.
Apesar do potencial gigante, o Brasil ainda enfrenta obstáculos para se tornar uma referência global em inovação sustentável. O que faltam são investimentos em pesquisa e desenvolvimento, educação empreendedora com foco em sustentabilidade, políticas públicas consistentes e estáveis; integração entre governos, setor privado e sociedade civil; comunicação e exportação da imagem verde brasileira.
Em resumo, podemos afirmar que nosso país tem tudo para liderar a inovação sustentável globalmente: biodiversidade, criatividade, clima, recursos e empreendedores com propósito. O que falta é estrutura, investimento e visão estratégica de longo prazo.
Já perdi as contas de quantas vezes fui questionado sobre os motivos que levam os produtos sustentáveis chegarem com preços exorbitantes para o consumidor final, já que se economiza em recursos. E as explicações são estruturais, por isso vou direto ao ponto: tecnologia e inovação ainda têm custo elevado, e o investimento em pesquisas, desenvolvimento e certificações ambientais é alto, e esses custos acabam sendo repassados para os clientes. O segundo motivo é que empresas sustentáveis geralmente produzem em pequena escala, o que aumenta o custo unitário de um determinado produto. Podemos destacar ainda que selos como orgânico, cruelty-free, FSC, carbono neutro, entre outros, exigem auditorias, testes e conformidades que geram custos operacionais extras. Se não bastasse, matérias-primas ecológicas, biodegradáveis ou locais são mais caras e difíceis de obter em grandes quantidades. Para finalizar, esse consumidor que tem um perfil diferenciado não compra em massa e como a demanda ainda é pequena em relação a produtos convencionais, o volume de vendas não compensa os custos operacionais.
A reflexão que posso deixar com esse artigo é que o preço final não mostra o real valor intangível de um produto sustentável, já que os frutos serão colhidos lá na frente. Porque produtos convencionais podem custar barato no mercado, mas custam caro para o planeta, que se torna cada vez mais poluído, explorado, doente e sem perspectivas de futuro.
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