AO VIVO Assista ao vivo a tv Aqui Vale!
Início » Especialistas do Vale comentam caso Felca e expõem riscos da exposição infantil online

Especialistas do Vale comentam caso Felca e expõem riscos da exposição infantil online

Durante demonstração, o influenciador cria “Algoritmo P” e, em minutos, recebe conteúdos sexualizados de menores e interações de criminosos

Por Portal Aqui Vale
Foto: Foto: Captura de tela do vídeo publicado pelo Youtuber Felca

Um vídeo publicado pelo youtuber Felca reacendeu o debate sobre a exposição infantil na internet. No conteúdo, o influenciador aborda a realidade de “adolescentes mirins” e as preocupações de manter uma vida pública enquanto ainda estão em formação.

A publicação também levantou uma discussão urgente sobre pedofilia nas redes sociais, tempo de tela e o papel dos pais na proteção da saúde mental infantil.

No vídeo, que já ultrapassa 26 milhões de visualizações no YouTube, Felca criou do zero um perfil no Instagram, chamado “Algoritmo P”. Ao interagir minimamente com conteúdos de menores, o feed rapidamente foi tomado por vídeos de crianças dançando ou posando de forma sexualizada.

Algo mais grave acontece: nos comentários, o youtuber identificou redes de criminosos trocando informações e materiais ilegais por meio de códigos, como a expressão “Trade telegram” e links disfarçados.

A repercussão foi rápida e um dos influenciadores citados por Felca, Hytalo Santos, teve sua conta removida do Instagram e o caso passou a ser acompanhado por órgãos de fiscalização e autoridades. 

O episódio também entrou no debate político. Depois da publicação do vídeo, parlamentares anunciaram a intenção de pautar a “adultização infantil” na Câmara.

O que dizem as psicólogas ouvidas pelo Aqui Vale

A redação do Aqui Vale conversou com três psicólogas especializadas em infância, Marcela Ondei, Marina Allgayer e Lara França, para traduzir em linguagem clínica e prática o que a demonstração do Felca confirma. 

Vamos abordar sintomas a serem observados e orientações práticas para pais e responsáveis. Abaixo, a análise integrada das três vozes.

1) Adultização e identidade

Para a psicóloga Marcela Ondei, o problema se forma quando a criança passa a medir o próprio valor a partir de métricas externas: curtidas, comentários e visualizações. 

Ela explica que a criança pode “associar o próprio valor ao número de curtidas” e, com isso, desenvolver crenças limitantes, como a sensação de que precisa agradar ou performar para ser amada. 

Esse processo, segundo Marcela, “pode dificultar a construção de uma identidade sólida fora das redes” e abrir caminho para relações relacionais tóxicas no futuro.

Marcela alerta ainda para um risco que costuma ser subestimado: “O trauma não depende só do contato físico”

A exposição, a humilhação pública, os comentários predatórios e a sensação de vulnerabilidade podem, por si só, gerar marcas psicológicas profundas (vergonha, culpa, medo) porque a criança ainda não tem ferramentas cognitivas para elaborar essas experiências.

2) Sinais, sintomas e o quadro clínico

A psicóloga Marina Allgayer trouxe à reportagem uma lista de sinais observáveis e de consequências psicológicas dessa exposição. 

Ela enfatiza que crianças e adolescentes muitas vezes não relatam o problema por vergonha ou medo; por isso, o monitoramento dos adultos é indispensável.

Sinais práticos a serem observados (lista resumida com base nas falas de Marina):

  • Aumento repentino e significativo do tempo online, especialmente em horários incomuns (madrugada).
  • Uso de dispositivos em segredo, esconder a tela ou atividade.
  • Agitação, irritabilidade ou crises quando o acesso é interrompido.
  • Remoção de históricos, exclusão de mensagens ou perfis sem explicação.
  • Perda de interesse por atividades antes prazerosas (esportes, brincadeiras).
  • Isolamento social, evitando falar sobre o que faz online.
  • Alterações no sono e queda no rendimento escolar.

Marina diferencia impactos de curto e longo prazo. 

No curto prazo, a criança pode passar a ter pensamentos intrusivos sobre a exposição, sentimento avassalador de vergonha, retraimento e sintomas físicos (dores de cabeça, náuseas, distúrbios do sono). 

No longo prazo, sem intervenção, esses quadros podem evoluir para transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão crônica, problemas de confiança e relacionamento, transtornos alimentares, e vulnerabilidade a comportamentos autolesivos ou uso de substâncias. 

Como síntese de sua orientação: “Comunicação aberta é a ferramenta mais poderosa dos pais.”

3) Proteção, privacidade e medidas práticas

A psicóloga Lara França trouxe um olhar preventivo à reportagem. Para ela, o bom senso é o primeiro filtro: “Não postar criança em situações de privacidade”, como no banho, em momentos constrangedores ou ambientes que exponham demais o corpo. Entre as recomendações diretas de Lara:

  • Evitar postar ao vivo; preferir publicar depois (quando for realmente necessário).
  • Usar perfil privado ou limitar publicações a círculos restritos (close friends).
  • Desenvolver o conceito de consentimento desde cedo: perguntar à criança se ela quer que aquela foto seja postada.
  • Preservar memórias em álbuns privados (físicos ou digitais) em vez de redes públicas.
  • Ensinar a criança desde pequena que “a imagem dela pertence a ela” e que ela tem o direito de dizer não.

Lara também reforça que a educação digital dos pais é condição básica. Se os adultos não compreendem bem as dinâmicas de tela e exposição, não poderão guiar seus filhos adequadamente.

Como a exposição online vira risco físico e social

As psicólogas convergem em um ponto não negociável: exposição de rotina, localizações, horários e fotos repetidas da casa ou da escola aumentam a chance de que pessoas mal-intencionadas localizem crianças fora do ambiente digital. 

Marcela lembra que quanto mais informações pessoais (escola, rotina e endereço) são compartilhadas, mais vulnerável a criança fica no mundo real, tanto para assédio quanto para ações criminosas. 

Marina e Lara reforçam que essas práticas deixam rastros e ampliam o alcance de material que, uma vez circulando, raramente é apagado por completo.

Tempo de tela: limite, monitoramento ou ambos?

As especialistas deixam claro que tempo de tela e conteúdo andam juntos. Não basta só limitar horas se, nas poucas horas online, a criança for exposta a conteúdos perigosos. 

Marina aponta que o aumento repentino do tempo online, especialmente em horários noturnos, é um sinal de alerta, e que a solução efetiva combina limites com presença ativa dos pais: “sentar ao lado, entender o que a criança assiste e conversar sobre isso”, como resumiu uma das psicólogas.

Princípios práticos reunidos pelas três especialistas:

  • Prefira áreas comuns da casa para o uso de dispositivos (maior supervisão espontânea).
  • Estabeleça limites claros de tempo, ajustados por idade.
  • Conheça os aplicativos: saiba como funcionam e quais riscos apresentam.
  • Use controles e configurações de privacidade, mas não delegue só a tecnologia, a educação e o diálogo continuam sendo centrais.

Checklist para pais (síntese das três especialistas)

  1. Reavalie o que já está online: apague ou restrinja posts que exponham rotina, localização, escola ou imagens íntimas.
  2. Torne perfis privados e restrinja quem pode ver publicações; evite lives com crianças em destaque.
  3. Converse sem pânico: abra um canal de comunicação onde a criança se sinta segura para contar algo desconfortável.
  4. Monitore sinais comportamentais e procure ajuda profissional ao primeiro sinal de mudança.
  5. Ensine consentimento: pergunte antes de postar e respeite a negativa da criança.
  6. Regule o tempo de tela e prefira uso supervisionado em momentos públicos da casa.
  7. Denuncie conteúdos e perfis suspeitos às plataformas e, se houver ameaça ou crime, às autoridades competentes.
Portal Aqui Vale

Noticias de São José dos Campos e região.

Deixe um comentário

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *