Embraer, a constante vítima do governo dos Estados Unidos
A investida de Donald Trump não é novidade, nem se tratando do presidente e nem dos EUA. A Embraer estima que a tarifação terá um impacto de R$ 20 bilhões até 2030
Artigo de opinião assinado por Júlio. Ottoboni.
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A Embraer tem um longo histórico de interferências dos Estados Unidos em seus negócios, que geraram alguns bilhões de prejuízo e quase levaram a empresa a falência. E que não começou agora, com a imposição de tarifas pelo governo Trump. Isso remonta ainda os anos 80, quando – ainda como estatal – perdeu 54 aviões Tucanos para a Força Aérea do Egito devido o perdão da dívida externa do país, num movimento liderado pelos EUA que tinha o país com seu principal aliado na África. A empresa de São José dos Campos nunca recebeu um centavo dos aparelhos vendidos e quase decretou a falência da Embraer.
A investida de Donald Trump não é novidade, nem se tratando do presidente e nem dos EUA. A Embraer estima que a tarifação terá um impacto de R$ 20 bilhões até 2030. Depende ainda do que ocorrerá nestas próximas duas semanas, mas tudo sinaliza que o governo trompista avançará ainda mais sobre a soberania brasileira. A partir de agosto a tarifa de 50% imposta contra produtos brasileiros terá o impacto direto de cerca de R$ 2 bilhões. Os Estados Unidos são o principal mercado da Embraer, responsáveis por 45% das vendas de jatos comerciais e 70% das de jatos executivos da fabricante brasileira.
No governo de Fernando Henrique Cardoso e de Bill Clinton, quando o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) dava seus primeiros passos, foi fechado o acordo entre os governos. A Embraer levaria a concorrência dos aviões da Marinha dos EUA e a Raytheon Company, um conglomerado norte americano, ficaria responsável por todos equipamentos, montagem e treinamento dos militares brasileiros no sistema amazônico.
A Raytheon levou duas vezes, no Sivam e nas aeronaves norte americanas, e a Embraer ficou totalmente escanteada na negociação. O JPATS (Joint Primary Aircraft Training System) foi um programa de licitação nos anos 90 para substituir os aviões de treinamento das forças aéreas dos EUA e da marinha. A Embraer participou com um protótipo desenvolvido em conjunto com a Northrop Grumman, quando apresentou o protótipo, o Tucano PoC (Proof of Concept), que era uma versão aprimorada do EMB-312 Tucano. Mas o projeto não foi vencedor, perdendo para o Raytheon T-6 Texan II.
Passado um tempo, uma nova estocada. Agora em 2006. Os Estados Unidos vetaram a venda de aviões da Embraer para a Venezuela, devido ao uso de tecnologia americana nas aeronaves. O governo americano exigiu uma licença específica para exportação, que não foi concedida, levando a Embraer a desistir do negócio de 36 aviões Super Tucano, no valor de US$ 500 milhões. O governo brasileiro, na época, tentou negociar com os EUA para reverter a decisão, mas não obteve sucesso. O caso gerou tensão nas relações entre Brasil e Estados Unidos, e a Embraer também enfrentou dificuldades em outros negócios com os EUA, como o cancelamento de um contrato para um projeto de avião de espionagem.
Em 2012, a Embraer sofreu um novo golpe do governo dos Estados Unidos, com o cancelamento da compra de 20 aviões Super Tucano pela Força Aérea no valor de 355 milhões de dólares. A anulação do contrato, anunciada e justificada pelo governo norte americano “por problemas nos documentos apresentados na licitação”, retirou não só dinheiro da Embraer, mas a condição dela figurar entre os maiores fornecedores do mercado mundial de produtos bélicos.
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