Assistir vídeos acelerados pode comprometer aprendizagem, aponta pesquisa americana
Levantamentos apontam limites para o aprendizado quando a velocidade de reprodução ultrapassa o ritmo natural da fala
A ideia de otimizar o tempo tem mudado muitos dos nossos hábitos, e assistir a vídeos em velocidade acelerada virou prática comum, especialmente entre estudantes.
Dados de uma pesquisa recente feita nos Estados Unidos mostram que 89% dos estudantes ajustam a velocidade de reprodução ao assistir aulas online. O objetivo parece simples: aprender mais rápido, consumir mais conteúdo e economizar tempo.
Mas essa estratégia, apesar de popular, pode estar interferindo diretamente na forma como o cérebro processa e retém as informações.
Quando ouvimos uma explicação, o cérebro passa por etapas essenciais: codificar o que foi dito, armazenar a informação e, mais tarde, recuperá-la.
É um processo complexo que envolve atenção, contexto e ritmo. E, como qualquer sistema, o cérebro também tem seus limites.
Em média, uma pessoa fala cerca de 150 palavras por minuto. Esse número pode ser multiplicado por dois ou até três em vídeos acelerados, e, ainda assim, a fala continua compreensível.
Compreensível, sim. Mas isso não garante que será absorvido com qualidade.
Segundo o professor Marcus Pearce, da Queen Mary University of London, esse tipo de consumo rápido pode sobrecarregar a chamada memória de trabalho, uma estrutura do cérebro responsável por lidar com informações temporárias e conectá-las com o que já sabemos.
Se muita informação chega ao mesmo tempo, o sistema fica congestionado. Parte do conteúdo não é devidamente processada, e se perde antes mesmo de chegar à memória de longo prazo.
Uma meta-análise que reuniu 24 estudos científicos mostrou como isso acontece na prática. Em todos os experimentos, os participantes assistiram à mesma videoaula em diferentes velocidades (de 1x a 2,5x) e, em seguida, responderam a testes sobre o conteúdo.
O desempenho se manteve relativamente estável até a velocidade de 1,5x. Acima disso, os resultados começaram a cair. A 2,5x, a queda média foi de 17 pontos percentuais nas avaliações.
O impacto foi ainda mais evidente entre adultos mais velhos, com idades entre 61 e 94 anos. Eles apresentaram mais dificuldades diante da velocidade, o que pode estar relacionado à diminuição natural da capacidade de memória com o passar do tempo.
Ainda não se sabe se o cérebro é capaz de se adaptar, com o tempo, ao consumo constante de conteúdos acelerados. Pode ser que sim. Mas também existe a possibilidade de efeitos negativos mais duradouros, como maior fadiga mental ou redução da motivação para aprender.
Assistir a vídeos mais rápido pode até dar a sensação de produtividade. Mas, quando o assunto é aprendizado, tempo e profundidade importam.
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