Alerta: 1 em cada 3 casos de câncer de mama atinge mulheres com menos de 50 anos
Mais de 108 mil brasileiras foram diagnosticadas antes dos 50 anos entre 2018 e 2023. Especialistas pedem que a mamografia no SUS inclua outras faixas etárias.
Um novo levantamento acende o alerta para o câncer de mama no Brasil: 1 em cada 3 mulheres diagnosticadas com a doença tem menos de 50 anos. Segundo dados analisados pelo Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), mais de 108 mil mulheres abaixo dessa faixa etária receberam o diagnóstico entre 2018 e 2023.
O número levanta um debate importante: será que não está na hora de o SUS rever a recomendação e ampliar o acesso à mamografia para mulheres mais jovens e também para quem tem mais de 70 anos?
“Sim, eu acho que o SUS deveria ampliar a faixa etária de rastreamento, iniciando aos 40 anos, como já é preconizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia”, afirma o Dr. José Spártaco Vial, mastologista em São José dos Campos com 35 anos de carreira. “Essa é a recomendação da nossa sociedade: começar aos 40 anos o rastreamento com mamografia uma vez por ano, em pacientes assintomáticas.”
Câncer não tem idade
No total, foram 319 mil diagnósticos da doença no país entre 2018 e 2023. A maior parte ainda se concentra na faixa dos 50 a 69 anos, grupo que já faz parte do rastreamento padrão no SUS. Mas os números em outras idades são expressivos:
- Mulheres de 40 a 49 anos: 71.204 casos
- Mulheres de 35 a 39 anos: 19.576 casos
- Acima dos 70 anos: 53.240 casos
Esses três grupos, que hoje não têm prioridade no rastreamento gratuito, representam juntos mais de 40% de todos os diagnósticos.
“O sinal mais comum é um nódulo palpável, endurecido e não móvel. Mas quando já se sente esse nódulo, geralmente não é um caso tão inicial. Por isso é tão importante ampliar o espectro da mamografia de rastreamento a partir dos 40 anos”, reforça Dr. Vial.
Um relato que inspira
A contadora Thais de Carvalho Isidio, de São José dos Campos, descobriu o câncer aos 42 anos. Foi ela mesma quem percebeu o caroço durante o autoexame, mesmo após a mamografia não indicar alterações.
“Receber o diagnóstico não foi fácil, me senti desafiada a lutar pela minha vida. Mas mantive minha cabeça firme e com pensamentos positivos o tempo todo”, conta. “Sempre tive o hábito de ir ao ginecologista a cada seis meses. E fui eu quem pediu para a médica passar o aparelho perto da minha axila durante uma ultrassonografia, porque havia sentido algo diferente. Foi assim que descobri o câncer. O nódulo estava encapsulado, sem se espalhar, e isso salvou minha vida.”
Thais passou por 4 sessões de quimioterapia, 25 de radioterapia e segue em menopausa medicamentosa como parte do tratamento preventivo, que vai durar até os 52 anos.
“Meu conselho para todas as mulheres é: conheçam o corpo de vocês, sejam curiosas, se toquem e nunca deixem de ir ao médico”, afirma. “Peçam exames sempre que sentirem algo diferente. Não deixem para depois.”
Casos e mortes em alta
A preocupação aumenta com o avanço dos números. Em 2018, foram cerca de 41 mil casos. Já em 2023, esse número chegou a mais de 65 mil — um salto de 59% em seis anos.
Em relação às mortes, o Brasil registrou 173.690 óbitos por câncer de mama entre 2018 e 2023. Desses, 38.793 eram mulheres com menos de 50 anos, o que representa 22% de todas as mortes.
O CBR lembra que a pandemia pode ter dificultado o acesso ao diagnóstico e ao tratamento, o que explicaria parte do aumento nas mortes nos últimos anos.
“A interrupção do rastreamento durante a pandemia gerou um efeito acumulado, contribuindo para o aumento da mortalidade”, destacou o colégio.
Onde os números são mais altos?
Os estados com mais diagnósticos no período foram:
- São Paulo – 22.014 casos
- Minas Gerais – 11.941 casos
- Paraná – 8.381 casos
- Rio Grande do Sul – 8.334 casos
- Bahia – 7.309 casos
Esses dados reforçam a urgência de ampliar o acesso ao exame para mais mulheres — independentemente da idade.
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