A renúncia da renúncia
Há quem torça pela renúncia do político corrupto. Há quem espere que ele reconheça a falcatrua cometida e devolva à sociedade o mandato que lhe…
Há quem torça pela renúncia do político corrupto.
Há quem espere que ele reconheça a falcatrua cometida e devolva à sociedade o mandato que lhe foi confiado.
Há o filho que aguarda a renúncia do pai àquela velha postura autoritária e ultrapassada, de quem não é muito afeito ao diálogo e costuma impor o que bem lhe entende a quem lhe apareça pela frente, dentro de casa.
Mas há o pai que espera igualmente que o filho renuncie à inconsequência, percebendo que chega uma hora na vida em que é preciso tomar uma atitude em favor da responsabilidade, de acordar para assumir as rédeas da própria vida e começar a construir suas próprias metas.
Há quem espere da mulher amada a renúncia aos velhos clichês de superficialidade, insegurança crônica e falta de firmeza no controle da própria vida.
Mas há mulheres que aguardam de certos homens a renúncia definitiva às âncoras arcaicas do machismo, da arrogância de se achar dono da verdade e da falta de capacidade em dar o mínimo de carinho a quem diz que ama.
Há quem duvide que o ser humano seja capaz de renunciar a alguma emoção, ou a algum bem, ou a qualquer apego.
Mas há quem enxergue renúncia no silêncio vivido no momento certo, quando tudo era um convite à fala; na chance de gol oferecida de bandeja para outro jogador marcar; no presente que me deram, mas que fica bem melhor se vestido, calçado ou lido pelo meu melhor amigo.
A poeta Cecília Meireles, no livro “Cânticos”, trata disso ao escrever:
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre a tua alma nas tuas mãos
E abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
Cecília Meireles
Renúncia. Eis um valor que merece reflexão. Um ato que merece ser vivido!
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