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A dor de quem perde tudo

De uma hora para outra, a casa está debaixo da lama, o carro foi levado pela enchente, a ponte mais próxima foi-se embora na correnteza.…

Por Carlos Abranches

De uma hora para outra, a casa está debaixo da lama, o carro foi levado pela enchente, a ponte mais próxima foi-se embora na correnteza.

Quando forças naturais se apresentam de forma descontrolada, a sensação de impotência é devastadora.

E quando, em meio aos escombros, vão-se também nossos afetos mais valiosos, o sentimento de que nada mais vale a pena torna-se perigosamente desesperador.

Estou acompanhando o desenrolar da tragédia provocada pelo excesso de chuva nas cidades do Litoral Norte de São Paulo. É duro saber que dezenas de moradores, empurrados pelas circunstâncias econômicas para viver em áreas de risco, ou morreram ou estão soterrados sob toneladas de materiais levados pela força das águas.

Outros, que moram em áreas próximas, viram a calamidade encher suas casas de restos trazidos pela enchente. Para cada um, a chuva prolongada se revelou com suas características mais invasivas, apesar dos alertas da Defesa Civil e da meteorologia.

Sim, havia o risco de alto volume de precipitação nos dias de carnaval, mas nenhuma previsão indicava tanta carga concentrada, o que potencializou o desastre.

Nesse momento, é preciso uma atitude diferenciada, por parte de quem se interessa em preservar sua sensibilidade social.

Estar distante dos locais atingidos não pressupõe permanecer indiferente a tanta dor, apesar do interesse em ler o noticiário.

Empatia é um dos sentimentos mais valiosos, em momentos assim.

Sentir a dor dos atingidos é olhar para eles de uma forma diferente, em que tão importante quanto tocar-se com seus enormes desconfortos, é colaborar de alguma forma, mesmo distante, nem que seja com uma prece pelos que partiram, como também pelos que ficaram.

Nossa cidade iniciou alguma ação para enviar algum tipo de auxílio material? Ali estaremos, para contribuir com o que pudermos.

Se por nossa vez não temos nada para colaborar, que nossa contribuição se faça através dos muitos estímulos para as equipes de apoio, que neste momento estão se deslocando para as cidades litorâneas.

A semeadura do comprometimento comunitário é uma das mais poderosas ferramentas de transformação da sociedade. Quem efetivamente se interessa pelo bem estar geral, não perde nenhuma oportunidade de distribuir o que tem de melhor dentro de si.

Em momentos como esse, é preciso sair do próprio casulo, acionando todos os sentimentos em favor de quem está sofrendo mais do que nós.

Como afirma o filósofo francês Emanuel Mounier (1905-1950), “amar é chamar os outros para fora da solidão”. Só quem consegue sair da indiferença do olhar de mero espectador de uma tragédia como essa, é capaz de contribuir para aliviar a dor de quem perdeu quase tudo nessa calamidade.

Façamos o que nos cabe, nesse instante. É pelo senso de solidariedade que vamos compartilhar a mais profunda aliança com nossa responsabilidade social.

Carlos Abranches

Renomado jornalista e apresentador de televisão, possui uma carreira brilhante na área de comunicação somada com inúmeros outros talentos, como músico, professor e psicanalista. Em sua coluna no Aqui Vale sobre psicologia e relações humanas, Abranches vai refletir sobre a importância do autoconhecimento para uma vida melhor e mais saudável.

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