Microplásticos já estão no corpo humano e levantam alerta para riscos à saúde
Partículas foram encontradas em diversos órgãos e fluidos; estudos apontam ligação com inflamações, desequilíbrios hormonais e até câncer
Embora ainda em fase inicial, as descobertas científicas sobre os microplásticos revelam um cenário preocupante para a saúde humana. Essas partículas, que se formam a partir da degradação de resíduos plásticos descartados no ambiente, já foram identificadas no sangue, no leite materno, na placenta, no cérebro e até no sêmen, indicando que a exposição é praticamente inevitável.
Pesquisadores estimam que um adulto possa ingerir até 52 mil fragmentos por ano. Como o corpo humano não consegue degradar nem eliminar essas partículas, elas tendem a se acumular nos tecidos e órgãos, carregando consigo substâncias químicas, bactérias e metais pesados.
Os efeitos ainda estão sendo desvendados, mas os primeiros estudos associam a presença dos microplásticos a inflamação, estresse oxidativo, alterações cardiovasculares, desregulação endócrina e imunológica, além de prejuízos à memória e ao aprendizado. Testes laboratoriais indicam também riscos de mutações celulares, câncer, reações alérgicas e puberdade precoce.
Para a médica e pesquisadora Thais Mauad, da Faculdade de Medicina da USP, a preocupação é ainda maior quando se trata da exposição precoce.
“Desde a vida intrauterina até os primeiros anos de desenvolvimento, os órgãos são mais suscetíveis a impactos externos. Isso amplia muito a gravidade do problema”, afirmou em entrevista ao Repórter SUS, iniciativa da Fiocruz.
Apesar dos alertas da ciência, a comunidade internacional ainda não conseguiu avançar em medidas concretas para frear a poluição plástica. Na última reunião da ONU sobre o tema, em Genebra, representantes de 185 países não chegaram a um consenso sequer sobre um texto-base para um tratado global. Enquanto isso, estima-se que 2,7 milhões de toneladas de plásticos tenham sido despejadas no meio ambiente em 2020, número que pode dobrar até 2040.
“Não vamos conseguir acabar com o plástico, mas temos que acabar com o plástico não essencial. Grande parte do que chega aos oceanos é descartável e tem uma vida útil de segundos, mas causa um impacto de décadas”, reforça Mauad.
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