Autismo: Teste de 15 minutos que analisa olhar promete diagnóstico precoce
Exame aprovado nos Estados Unidos é aplicado em bebês a partir de 14 meses; no Brasil, ainda não há previsão de chegada
Um exame aprovado nos Estados Unidos promete identificar sinais de autismo em apenas 15 minutos, a partir da análise dos olhos de bebês enquanto eles assistem a vídeos. A tecnologia foi liberada em 2023 pelo órgão regulador americano e pode ser aplicada em crianças de 14 a 30 meses.
O estudo é conduzido em Atlanta, em um centro dirigido pelo brasileiro Ami Klin. No Brasil, o método ainda não tem previsão de chegada e depende da aprovação das autoridades de saúde.
Atualmente, o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) é clínico e envolve uma equipe multidisciplinar. Ele pode ser feito a partir dos 18 meses, mas se torna mais preciso a partir dos três anos. A avaliação considera a observação direta da criança, testes padronizados e o histórico de desenvolvimento relatado por pais e cuidadores.
Cautela com um único marcador
Especialistas brasileiros alertam que o exame não pode substituir a análise clínica tradicional. Para eles, o autismo é muito heterogêneo e não pode ser reduzido a um único biomarcador, como o contato visual.
O psiquiatra infantil Guilherme Polanczyk, professor da USP, explica, em entrevista ao G1, que a falta de olhar nos olhos é comum em pessoas com TEA, mas não está presente em todos os casos. Algumas crianças mantêm contato visual desde cedo, outras perdem esse comportamento com o tempo e outras nunca apresentam alteração. Ele lembra que a técnica ainda precisa ser validada em diferentes populações e contextos.
Outro ponto de atenção é a adoção precoce do exame sem garantir profissionais preparados e acesso a terapias adequadas. Para Polanczyk, isso pode causar mais danos do que benefícios.
Sinais de atenção para os pais
O neuropediatra Carlos Gadia reforça que é importante observar marcos do desenvolvimento. Entre os sinais de alerta estão:
- Criança de 12 meses que não responde ao próprio nome
- Ausência de gestos simples, como dar tchau
- Falta de sorriso social
- Atraso significativo na fala
- Perda de habilidades já adquiridas (regressão)
- Ele também lembra que não existe “prazo de validade” para o desenvolvimento e que a participação da família é essencial em qualquer tratamento.
Situação no Brasil
O SUS oferece atendimento a pessoas com TEA por meio da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, que conta com mais de 570 unidades no país. Segundo o IBGE, 2,4 milhões de brasileiros já receberam o diagnóstico (pouco mais de 1% da população).
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