Câncer pode se tornar uma doença crônica e controlável
Avanços em diagnóstico, tratamentos personalizados e mudanças no estilo de vida ajudam pacientes a viver mais e com qualidade
O câncer começa a ser encarado como uma doença crônica e controlável, segundo especialistas ouvidos pelo G1. Assim como já acontece com o HIV e a diabetes, a tendência é que mais pacientes convivam com a doença por anos, mesmo sem cura.
“Não vamos erradicá-lo, mas vamos aprender a controlá-lo”, afirma o oncologista Stephen Stefani, da Oncoclínicas e da Americas Health Foundation.
Essa mudança vem sendo impulsionada por três fatores principais: diagnóstico precoce, tratamentos personalizados e mudanças no estilo de vida. Hoje, há pacientes com metástase que vivem mais de 10 anos com qualidade de vida, algo que há poucos anos seria impensável, como destaca Carlos Donnarumma, gerente nacional de oncologia da Rede Total Care.
A medicina oncológica também vive uma transformação. Os tratamentos estão deixando de ser padronizados por tipo de órgão e passando a considerar as características genéticas de cada tumor.
“Não se fala mais em tratar só o câncer de pulmão, mama ou intestino. Hoje, a gente olha para a mutação que aquele tumor tem e decide o tratamento com base nisso”, explica Stefani, em entrevista ao G1.
Medicamentos como Larotrectinibe, Pembrolizumabe e Enhertu já estão disponíveis no Brasil e seguem essa lógica de atuação específica.
Além da quimioterapia e da radioterapia, tratamentos mais comuns (especialmente no SUS), novas abordagens têm se destacado: imunoterapia, terapias-alvo, terapias conjugadas, teranósticas e até o CAR-T Cell, uma tecnologia que usa células de defesa do próprio paciente, ainda restrita a poucos casos.
Uma nova fronteira em discussão são as doses ultrabaixas de imunoterapia, que têm mostrado boa resposta com menos toxicidade e custo mais acessível, algo especialmente importante em países com grandes desigualdades, como o Brasil.
Ao mesmo tempo, cresce o número de casos em pessoas com menos de 50 anos. Segundo dados citados pelo G1, o aumento global foi de 79% nas últimas três décadas. A maioria desses pacientes não têm histórico familiar, o que levanta alertas sobre fatores ambientais e comportamentais, como sedentarismo, alimentação ultraprocessada, obesidade, poluição e microplásticos.
Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, destaca que os números mostram uma mudança preocupante e reforçam a importância da prevenção.
Já o oncologista Vladmir Cordeiro de Lima, pesquisador do A.C. Camargo Cancer Center, lembra que o câncer também faz parte do processo natural de envelhecimento celular. “Nosso corpo erra na divisão celular, mesmo sem influência externa. Não dá para falar em erradicação total da doença”.
Apesar dos avanços, o acesso desigual aos tratamentos ainda é um obstáculo. Segundo Donnarumma, grande parte das terapias mais modernas ainda está restrita ao setor privado. No Sistema Único de Saúde (SUS), muitos exames, cirurgias e medicamentos ainda não são realidade.
O câncer já é a segunda principal causa de morte no Brasil e deve assumir o primeiro lugar nos próximos anos. Ainda assim, menos de 4% do orçamento federal da saúde é destinado à oncologia, como destaca Pinheiro.
“É um investimento pequeno para um problema gigantesco. E mesmo assim, os recursos são mal distribuídos”, afirmou ele ao G1.
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