Alckmin, Doria, Cury e Felicio, a política e seus spoilers
Se antigamente, estar na política era algo quase inalcançável, hoje em dia, basta-se um padrinho adequado, uma rede social afiada e disposição. Voilà, um novo…
Se antigamente, estar na política era algo quase inalcançável, hoje em dia, basta-se um padrinho adequado, uma rede social afiada e disposição. Voilà, um novo político foi criado.
Em tempos de outrora, Getúlio, JK, Collor e cia, tinham mais dificuldades para chegar ao poder – o acesso à massa era mais difícil e política era assunto de poucos – mas quando chegavam, era difícil de tirá-los de lá.
Meu avô contava com brilho nos olhos daquele tempo que eram poucos os privilegiados a fazerem parte da política. Se ele tivesse vivido para ver os tempos de hoje, veria o quanto essa premissa mudou… com um celular na mão, um discurso populista, alguma estratégia de nichos e massas, um político de sucesso endossando sua necessidade pública e um pouco de sorte, temos facilmente um novo homem público.
Mas tão fácil quanto se tornou colocá-los no poder, tem sido demiti-los. Se antes, a política tinha alguma estabilidade e garantias, hoje cada vez menos. Talvez pelos argumentos descartáveis de um tempo acelerado ou quem sabe pela falta de ideologia que mais cedo ou mais tarde se mostram ao eleitor.
E para que essa ciranda política gire devagar e com menos chances de derrubar o pretenso político, um padrinho tem sido cada vez mais indispensável. Acontece assim nacionalmente, com Lula, Bolsonaro e centenas de deputados e prefeitos, nos estados e, sem dúvidas, também nos municípios e regiões.
Trazendo para a nossa realidade, foi assim com Geraldo Alckmin e João Doria e, em São José dos Campos, com Eduardo Cury e Felicio Ramuth para a Prefeitura.
E o que esse quarteto com ex-colegas de partido têm em comum? São padrinhos e apadrinhados que viraram abóbora depois de calçarem o sapatinho de cristal e, agora, enfrentam os dissabores dessa relação.
Alckmin e Doria
Alckmin, na época governador de São Paulo, lançou como seu homem de confiança à Prefeitura de São Paulo, em 2016, o empresário João Doria. O empresário era um colega antigo do atual vice-presidente e se tornou um cometa nas intenções de voto, vencendo as eleições em primeiro turno, fato histórico para a capital paulista. Na época, Alckmin comprou uma briga interna no PSDB para lançar Doria, todo o partido era contra.
Mas segundo Aristóteles, “o verdadeiro discípulo é aquele que supera o mestre” e Doria quis seguir à risca a receita do filósofo grego. Em 2018, contrariando a hierarquia natural do partido de ter Alckmin como presidenciável, Doria começou a dar indícios de que queria “furar a fila” e ser o candidato tucano. Como não conseguiu, foi candidato a governador e, para se projetar em cima da popularidade de Bolsonaro, lançou o famoso “BolsoDoria”, uma campanha informal que o fez ser eleito governador de São Paulo.
Com a péssima votação de Alckmin à presidência e com Doria governando o maior estado da federação, não demorou para que o apadrinhado desse cada vez menos espaço ao padrinho. Ambos se afastaram – Alckmin praticamente fora da cena política e o novo governador de São Paulo protagonizando brigas homéricas com bolsonaristas de todo o tipo.
O que ninguém esperava era a reviravolta em 2022, com Doria sendo praticamente enxotado pela opinião pública do universo político e Alckmin voltando ao cenário nacional com grande relevância, indo para o PSB e sendo eleito vice-presidente da República, já tendo assumido o governo brasileiro por diversas vezes apenas neste ano.
E o que tudo isso tem a ver com a política de São José dos Campos? O cenário se parece e muito. Com padrinho e apadrinhado agora em uma disputa nunca vista na cidade pela preferência e prestígio do eleitor.
Cury e Felicio
Em 2016, Felicio Ramuth era um desconhecido pela população joseense. Embora já tivesse um histórico de trabalho na cidade, quem estava fora da bolha política não o conhecia. Com o retorno certo do PSDB à Prefeitura de São José por conta da baixa aprovação do então prefeito Carlinhos Almeida (PT), a indicação de Cury era crucial para o nome do novo comandante do Paço Municipal.
Em um acordo de bastidores, Emanuel Fernandes lançou o nome do candidato a prefeito em 2012, o derrotado Alexandre Blanco, no caso. E em 2016, seria a vez do protegido de Cury disputar as eleições.
Foi a vez de Cury ser o padrinho e Felicio ser o apadrinhado. Com a aprovação dos joseenses, ele foi eleito e reeleito para a Prefeitura de São José. Mas em 2022, tal qual Alckmin e Doria, Felicio quis ser o discípulo que superou o mestre e renunciou à Prefeitura para concorrer ao cargo de vice-governador de São Paulo por um novo partido, o PSD de Gilberto Kassab, que ocupa três ministérios no governo Lula e faz parte da base de apoio ao Governo Federal no Congresso.
Assim aconteceu e da mesma forma que Doria ascendeu como governador em 2018, Felicio se tornou vice-governador em 2022. E igual Alckmin foi derrotado em 2018, Cury foi vencido em 2022, perdendo seu cargo como deputado federal.
Com essa ciranda política rodando, vários questionamentos vêm à tona: Cury sairá como vencedor, assim como Alckmin? Felicio e seu jeito empresarial de fazer política seguirá os passos de Doria? O aprendiz supera o mestre? O ciclo se repete?
Entre muitos questionamentos, temos uma certeza: a Prefeitura de São José ficará nas mãos de quem tem um padrinho. Não sabemos ainda se com Cury e seu padrinho Emanuel ou se com Anderson e seu padrinho Felicio.
Aguardemos os próximos capítulos e analisemos o que já aconteceu na história, ela sempre nos traz grandes spoilers.
Crédito das fotos: reprodução/internet; G1; Facebook; Instagram.
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