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Exposição ‘Botannica Tirannica’, no Sesc Taubaté, propõe reflexão sobre racismo e preconceitos

O Sesc Taubaté inaugura no dia 21 de setembro a exposição “Botannica Tirannica”, da artista e pesquisadora Giselle Beiguelman, que reúne imagens impressas, vídeos e…

Por Marilda Serrano

O Sesc Taubaté inaugura no dia 21 de setembro a exposição “Botannica Tirannica”, da artista e pesquisadora Giselle Beiguelman, que reúne imagens impressas, vídeos e um ensaio audiovisual, espalhados na Área de Convivência e no Espaço Vida, para propor uma reflexão sobre preconceitos na botânica – e, consequentemente, no nosso cotidiano.

A mostra usa o reino vegetal para interrogar as relações entre a ciência e o colonialismo na classificação das espécies. Esse sistema “naturalizou” o racismo e preconceitos contra diversos grupos étnicos e sociais – entre eles negros, indígenas, judeus, ciganos, LGBTQIA+, mulheres e idosos – que são diminuídos e reprimidos pelo uso discriminatório da nomenclatura científica e popular.
Com curadoria de Aline Ambrósio, a exposição busca mobilizar o público a romper os binarismos impostos, as identidades fixas e as políticas de segregação e dominação.

A pesquisa

O projeto de Giselle começou a tomar forma com um fato corriqueiro: ela ganhou uma muda de Tradescantia zebrina de presente. Essa planta, tradicionalmente chamada de “judeu errante” em vários países e idiomas, despertou a artista para a questão da nomeação de espécies.
A partir dali, iniciou uma pesquisa que mapeou centenas de plantas nomeadas pejorativamente, como Orelha-de-judeu, Maria-sem-vergonha, Bunda-de-mulata, Peito-de-moça, Malícia-de-mulher, Catinga-de-mulata, Ciganinha, Chá-de-bugre, Cabelo-de-negro, Língua-de-sogra e Cabeça-de-velho.

“Minha maior surpresa foi perceber que muitas dessas plantas, que têm nomes pejorativos e preconceituosos, são ervas ditas daninhas! E lindíssimas. Esse termo tão desqualificador no pensamento hegemônico tornou-se, para mim, um símbolo de resiliência”, explica Giselle.

Ensaio audiovisual

Estreando nas unidades do Sesc, a mostra traz à tona um debate pertinente que tem como um dos destaques o ensaio audiovisual que combina imagens de arquivos à reflexão crítica, condensando a vasta pesquisa feita para a exposição “Botannica Tirannica” ao longo de um ano e meio.

Peça chave do projeto, a obra discute as formas pelas quais o preconceito racial, cultural e de gênero se fundamenta cientificamente a partir do século 19, contaminando o imaginário coletivo e desdobrando-se em linguagens, vocabulários e estéticas.

Outros pontos altos da mostra são as obras Flora Rebellis e a Flora Mutandis. A primeira é composta por uma série de vídeos generativos produzidos com Inteligência Artificial a partir de conjuntos de dados organizados relativos a plantas dotadas de nomes ofensivos e preconceituosos.

Já a Flora Mutandis, também uma série de imagens criada com Inteligência Artificial, é resultante do cruzamento de espécies de plantas dotadas de nomes científicos e/ou vulgares e ofensivos, que expressam preconceitos diversos relativos a partes do corpo e traços culturais. A nomenclatura das espécies da série Flora Mutandis foi gerada algoritmicamente a partir do embaralhamento dos nomes originais das espécies.

Jardim da Resiliência

“Toda erva daninha é um ser rebelde”. Esse dizer condensa as prerrogativas do projeto e da mostra. Composto por variadas espécies de plantas, em sua maioria ditas “daninhas”, portadoras de nomes ofensivos, misóginos, racistas e antissemitas, Giselle propõe um Jardim da Resiliência, em que essas espécies desafiam o imaginário colonialista dos processos de classificação e dominação da natureza, confrontando nomenclaturas baseadas em preconceitos.

Segundo a curadora, Aline Ambrósio, por meio de suportes distintos, a artista subverte os usos correntes da tecnologia, criando novos sentidos poéticos e novos significados políticos e sociais. “Surgem assim criaturas híbridas, surpreendentes e desconcertantes, plantas ao mesmo tempo reais e imaginárias, verdadeiras e fictícias que confundem a tal ponto que desarticulam a tendência taxonômica por meio de seus corpos estranhamente familiares, de sua plasticidade e de suas nomenclaturas intrigantes e impronunciáveis”, afirma.

Marilda Serrano

Marilda é a colunista ideal para se manter informado sobre as pessoas e eventos em alta. Com uma rede de contatos perfeita, é ela quem pauta o social da região sem perder nenhuma oportunidade de partilhar o que há de melhor entre a elite joseense. São anos de experiência e agora integrada ao novo portal de notícias, Aqui Vale, promete abalar as estruturas urbanas.

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