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Uma conversa é boa quando tem diálogo

Atenção para o que as duas pessoas deste texto procuram falar. Personagem 1: -Cara, passei por uma situação estranha, semana passada. Pela primeira vez, meu…

Por Carlos Abranches

Atenção para o que as duas pessoas deste texto procuram falar.

Personagem 1:

-Cara, passei por uma situação estranha, semana passada. Pela primeira vez, meu filho me disse que estou ficando velho demais para ele. Disse que o que lhe interessa agora são os amigos e as meninas. Fiquei muito tocado com isso.

Personagem 2:

-Olha, lá em casa, passei a enfrentar a falta de educação de minha filha quando ela fez 14 anos. Quando minha mulher lhe disse que ela tinha de arrumar o quarto, não é que ela se rebelou e disse que quarto de adolescente era bagunçado mesmo.

Personagem 1:

-Olhei para ele e fiquei ressentido muito mais com seu olhar, que me mandava um recado de reprovação praticamente por eu existir. Chegou a me dizer que eu era careta demais para suas vontades de jovem, em plena descoberta dos prazeres da vida.

Personagem 2:

-Você não imagina o que minha mulher falou para ela, uma pirralha que não sabe metade dos problemas que vai ter de enfrentar na vida. Pegou a guria pelo colarinho e mandou-a arrumar na hora a bagunça daquele quarto. Quem ela pensa que é?

Personagem 1:

-Ainda não tenho ideia de como vou fazer com o “novo ser” que apareceu lá em casa.

Personagem 2:

-Falei com minha filha que passarinho que voa com morcego acaba dormindo de ponta-cabeça. Isso é coisa de más companhias. Se aparecer mais uma rebelde como ela por lá, saem as duas de casa.

Duas pessoas, dois assuntos, “tiros” para todo lado.

Uma conversa entre quem despreza a escuta reflexiva é assim. Parece que falam da mesma coisa, mas cada um quer mesmo é falar de si.

O pior é o resultado da péssima comunicação. Um não escuta o outro. E cada um quer desafogar todos os dramas por que passa enquanto tiver alguém disposto a escutar. Mas será que alguém ouve o outro, nessa disputa muda de prioridades?

Diálogo bom é conversa produtiva para todas as partes. Para que isso aconteça, é preciso ressaltar a delicada arte de ouvir. Quem quer falar sobre si mesmo, deve oferecer ouvidos atentos e coração disposto a se emocionar com as vivências do outro.

E pra você, o que é mais facil, falar ou ouvir? Torço para que você esteja atento e aberto às duas possibilidades.

Carlos Abranches

Renomado jornalista e apresentador de televisão, possui uma carreira brilhante na área de comunicação somada com inúmeros outros talentos, como músico, professor e psicanalista. Em sua coluna no Aqui Vale sobre psicologia e relações humanas, Abranches vai refletir sobre a importância do autoconhecimento para uma vida melhor e mais saudável.

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