4 passos para tratar a mentira no trabalho e a empresa retomar a saúde e os resultados
Passamos, hoje em dia, mais tempo no trabalho do que em nossa casa, não é mesmo? Então, considere que os comportamentos na empresa representam e…
Passamos, hoje em dia, mais tempo no trabalho do que em nossa casa, não é mesmo? Então, considere que os comportamentos na empresa representam e falam muito de nós e do nosso processo de mudanças. Saiba que grande parte dos resultados ruins da empresa pode estar vindo de um ponto que talvez, você sequer pensou.
Os problemas no mundo empresarial têm diferentes fatores de origem, a mentira é uma delas. Não falo sobre o caráter. Existem pessoas “do bem”, que embora tenham a verdade como um valor familiar, cultural e religioso, podem mentir e enganar a outros e a si mesmas. Costumo dizer que como a pessoa se comporta no seu ambiente pessoal, ela estenderá esse perfil para o seu trabalho.
Este cenário é muito mais comum do que possamos imaginar nas empresas. Lembrando que uma meia verdade já é uma mentira, as pessoas que não falam a verdade nem para seus pares nem para seus chefes, acabam mentindo para si mesmas e pior do que isso, acabam vivendo a própria mentira.
Sinto as vezes através dos meus atendimentos com empresas, que têm realidades paralelas aonde cada um enxerga uma coisa a respeito, mas não falam abertamente o que pensam, escondem e mentem.
Nos trabalhos que realizo com líderes executivos, ao mapear os dados e fatos, descubro que a empresa tem problemas ocultos, ou seja, ela esconde conflitos. Inacreditável quantos! Entretanto, diz que tudo está bem! Esse “estar bem” é somente um mecanismo de autossabotagem, detentor da evolução da própria empresa.
O autoengano se caracteriza por várias características que geram alto impacto na organização e que se resumem em não discutir os fatos reais. Muito comum encontrarmos nas reuniões apresentações esteticamente bonitas e sem muitos agravantes, muito embora, existam pontos críticos que apóiam a degradação lenta e quase imperceptível desta empresa. E o sistema organizacional acaba manipulando os dados e as informações para favorecer alguns e desfavorecer a outros.
Este sistema é impalpável, gerado na mente humana e transmitido através de uma teia de informações inconscientes. Convites sutis, a nível inconsciente, são feitos a consciência dos homens para formatar um sistema de relacionamentos deformado.
Então, exponho tudo isso abertamente com os executivos e eles ficam perplexos (que bom que fiquem!). É claro que esta cultura não se fomenta sozinha, afinal, existem pilares que as sustentam: o estilo de liderança vigente e – não se espante – o amor dos liderados à empresa e aos seus líderes e vice-versa, podendo existir uma relação doentia.
Em grande parte, todo tipo de organização, nas quais existe uma cultura predominantemente hierárquica vertical e relacional, não se permite discordar abertamente nem confrontar as ideias contrastantes daqueles que estão no comando. E o mesmo comportamento acontece do líder com os seus pares.
No entanto, conforme hesitam sair da zona de conforto, as próprias pessoas do comando impedem as mudanças. No médio ou longo prazo, esta atitude causa danos ao desempenho empresarial e muitas vezes, eles se tornam irreparáveis a ponto de acontecerem erros de trabalho, desmotivação, as demissões, afastamento e renúncias. Sim! Essa relação de trabalho está doente. O que fazer então? Mudar.
Então, chegam a conclusão de que é importante e urgente a mudança! Todo processo de mudança desconfortável e, muitas vezes, doloroso, concorda? Este processo é dividido em quatro fases.
A primeira é a da negação: tenta-se justificar os problemas e até mesmo, ignorá-los. O foco está no passado ao invés de enfrentar as dificuldades presentes. O ideal nesta fase é expor as verdades. Falar dos fatos e não das pessoas, com sinceridade mas sensibilidade, apresentar informações que as comprovam, avaliar as perdas e os ganhos e buscar as consequências da não mudança.
Porém, é uma estrutura hierárquica e relacional, na qual falar a verdade é causar um incêndio e, gerar o conflito é em definitivo a última alternativa. Pouquíssimas pessoas têm a coragem de ultrapassar esta fase. Aí talvez, existam pessoas de fora da empresa e que não estão com suas mentes atreladas ao sistema, que se arrisquem mais e digam a verdade. Por isso, importante ter pessoas abertas para perpetuarem essa cultura de sinceridade e confiança.
Uma vez vencida a negação, passa-se à segunda fase, que é a da resistência. É o momento da raiva, de colocar a culpa nos outros, de desqualificar as informações apresentadas, distorcendo e modelando a realidade da forma mais aceitável para si mesmo. Muitos dos que arriscam a entrar nesta etapa se sentem acuados e desistem da mudança, principalmente se a empresa estiver faturando. Como aquele ditado que diz que em time que está vencendo agente não mexe. Afinal, o importante são os números… Mais uma mentira! A verdade é que quem fazem os números são as pessoas. Este é o maior capital da empresa.
Os que vencem o “vale da morte” (nome desta fase) chegam à terceira etapa, que é a da exploração. Nela, as pessoas tendem a canalizar sua energia para a busca de novos rumos, novos objetivos. Aos poucos, começam as iniciativas e projetos na direção para chegar à quarta fase, que é a do comprometimento de criar nova vida, novos ciclos empresariais. Nesta fase, expressa-se a beleza das empresas e dos executivos que anseiam pelo desempenho sustentável de seus membros, tendo como premissa dizer a verdade.
Atravessar por estas fases exige que as pessoas se transformem individualmente e digam a verdade custe o que custar. Talvez seja mais fácil recuar, negar e resistir, especialmente, quando os números atestam o sucesso da empresa. Esse processo de transformação é difícil, mas nunca é impossível.
Ao final, a empresa conquista o sucesso no desafio de falar a verdade e quebra a formatação do sistema antigo, passando pelos processos de mudança. O resultado deste ciclo é o aumento da satisfação e do desempenho em todas as áreas da vida pessoal e profissional do indivíduo e a equipe se relaciona de forma saudável, leve e em harmonia.
Lembre-se que antes do sucesso de números e destaque, coloque a sua atenção em como está a saúde comportamental da empresa, isso sim poderá garantir a vantagem dela no mercado a curto, médio e longo prazo.
Tema sensível e relevante!
Eu penso que a cultura organizacional deva ser levada em consideração. Percebo cenários de empresas privadas e estruturas organizacionais mais clássicas ao ler sua análise, Vivian (ou não?).
Acredito que em empresas com modelos de negócio menos hierarquizados (tipo startups) ou em instituições públicas e acadêmicas,
esse fenômeno possa ser identificado com diferentes visões. Por exemplo, muitos dos colaboradores acreditam lveementemente em seus posicionamentos (suas verdades “absolutas”), o que torna difícil a gestão de conflitos. Em alguns casos, escolhas do tipo “prefiro ser feliz que ter razão” até são feitas. Não necessariamente pela falta de coragem de se posicionar, mas pelo questionamento se de fato valeria a pena gastar energia com determinadas questões, discussões… ou mesmo por falta de motivação.
Quem já participou de reuniões que pareciam intermináveis, com pautas polêmicas e que fogem da pauta, que o diga!
“Quem já participou de reuniões que pareciam intermináveis, com temas polêmicos e que fogem da pauta, que o diga!”
(Só ajustando o final do comentário anterior)
No mais, parabéns Vivian pela excelente reflexão!
Excelente reflexão! Assunto que muitos fogem! Mas, infelizmente, em um mundo com tanta tecnologia e competitividade, na luta diária de se conseguir bater mais e mais “metas”, nos deparamos com esse problema. E, quanto maior a empresa, maiores os desafios em relação ao assunto.